Bolsa de mão – Quando fazemos compras numa joalharia dão-nos uma bolsa como esta, para guardar as joias. Estas bolsas passaram a fazer parte da compra em si, já não as dispensamos.
Calculadora – Eu estava a finalizar o quinto ano de formação na área de comércio, e era indispensável ter uma calculadora para as aulas e exames de contabilidade. Os exames reuniam muitos alunos, salas grandes repletas de bancos. O número do aluno estava escrito no banco que competia a cada um. Comprei esta calculadora no dia do exame, mal a loja abriu de manhã. O exame era composto por três áreas: finanças, impostos e marketing. Três horas de exame, três horas a escrever e a fazer contas. Das onze da manhã às duas da tarde. O som das teclas das calculadoras de toda aquela gente a matraquear durante três horas. Dois meses depois saíram os resultados, e comecei a trabalhar em contabilidade. Só depois disso optei por fazer a minha especialização em advocacia. E a calculadora continuou a acompanhar-me.
Notas abençoadas – Nota de cem rupias. Inclui uma longa lista em que a descrição do valor está escrita nos diferentes dialetos presentes no país. Esta em particular não a gastarei, por causa do seu número de registo, 786. Nem sempre soube o significado deste número. Foi num dia de escola, estava na cantina com um colega de turma, e dei-me conta que não tinha levado dinheiro comigo. Disse-lhe «Emprestas-me dinheiro para o almoço? Amanhã devolvo-to» e ele respondeu «Tenho uma nota de cinco rupias, mas não ta posso dar por causa do número», «Que número?» «786, vês?», ele mostrou-me o número de registo impresso na nota, «Tu não sabes que na nossa religião este número é sagrado?». Pois, eu não sabia. Nesse dia fiquei sem almoço, mas a partir daí comecei a ter uma nova atenção. «É um número que dá sorte», disse-me ele, «Se guardares uma nota com este número impresso vais atrair prosperidade e mais notas virão». Está relacionado com a conversão numerológica de uma frase árabe que diz “Em nome de Allah, o compassivo, o misericordioso”. Se fizermos o nosso trabalho, o nosso esforço em nome de Allah, ele vai ajudar-nos e perdoar-nos se errarmos. Comecei a aperceber-me que os meus colegas muçulmanos, sempre que começávamos um novo ano escolar, escreviam este número na primeira folha dos cadernos, «Começo o meu estudo neste novo ano em nome de Allah, que assim me ajudará a ter um ano melhor», contaram-me eles. Mas eu nunca o fiz, porque poisamos os cadernos ou as mochilas em qualquer lado, e o nome do nosso Deus não deve ser tratado dessa forma. A esta nota de cinco euros guardei-a pelas mesmas razões.
Perfume para ocasiões especiais – O meu marido trabalhava como guia turístico, e numa visita a uma perfumaria na Suíça deram-lhe muitos frasquinhos destes, que ele trouxe para mim. Costumo andar com um na mala e uso apenas em ocasiões especiais.
Anéis – Fui a um Dargah, um santuário muçulmano que é construído por cima do túmulo de uma figura religiosa importante. Acredita-se que a alma da pessoa se mantém no santuário, há incenso a queimar e reza-se. Nas imediações há quem venda flores, comida, e também há quem venda anéis como estes, que levamos a abençoar ao santuário, para que nos protejam quando os usamos.
Pente – Quando eu tinha uns dez anos, uma senhora tocou à nossa porta a vender shampoo. Falou muito bem dele, que deixava o nosso cabelo forte e bonito, e na altura só costumávamos lavar o cabelo com sabão. Eu queria experimentar um shampoo daqueles. E na compra do shampoo ela oferecia um pente. Na televisão eu já tinha visto a anunciar pentes semelhantes, que não partiam o cabelo como os pentes que usávamos, cujos dentes eram finos e muito próximos. Mais do que o shampoo, eu queria o pente. A minha mãe não estava, e eu pedi muito à minha irmã que me emprestasse o dinheiro, «Ficas a dever-me!», disse ela. Fiquei tão contente. E desde então já experimentei outros pentes, mas não gostei de nenhum tanto quanto deste. Já me acompanha desde pequena, claro que tinha de o trazer comigo para Portugal.
Brincos de festa – Estão na nossa tradição, a minha avó, a minha mãe, investiram em brincos como estes, em prata, para os usarem em festas de família. Hoje em dia é possível encontrar imitações, e por um valor muito acessível podemos ter vários. Na Índia as mulheres são fans, fazem-nos sentir bonitas.
Pulseiras com pendente – Este tipo de pulseira é usado por mulheres Hindus. Nos casamentos agitam os pulsos com os pendentes sobre a cabeça das raparigas solteiras, como uma bênção para se casarem em breve. Não faz parte da minha religião, não temos esta tradição, mas eu aceito, acho as pulseiras bonitas e por isso as tenho.
Relógio de pulso dos tempos da faculdade – Foi o meu marido que me ofereceu, foi muito caro na altura, é um bom relógio.
Moedas de coleção – Quando era pequena vi num programa do Discovery Channel um rapaz a mostrar a sua coleção de moedas. Aquilo entusiasmou-me e comecei também eu a colecionar. Gosto especialmente desta moeda de uma rupia, que me dá sorte.
Selos de uma rupia para pagamento de taxa – Na Índia os documentos oficiais precisam deste selo para que os serviços os aceitem e os registem. Eu habituei-me a ter sempre vários comigo, caso contrário, se tivesse urgência em despachar um documento mas não tivesse um selo, não poderia avançar. Os meus colegas vinham muitas vezes ao meu escritório pedir-me um. No tribunal usava selos de uma rupia ou de cinco ou dez rupias, a taxa dependia do tipo de documento.
Lenços de algodão – O tempo na Índia é normalmente quente e húmido, por isso o corpo transpira muito. É frequente termos de limpar o rosto, pelo que andamos sempre com lenços. Não usamos lenços de papel, seria um grande desperdício, mas sim lenços de algodão. Estes foram-me oferecidos por uma tia no meu casamento, era um conjunto grande, e estes ficaram guardados para recordação.
Envelope de casamento – Quando somos convidados para um casamento a prenda é oferecida a um dos dois, mediante quem nos convida. Se formos da parte do noivo, é costume oferecer dinheiro usando um envelope como este, como ajuda para pagar o casamento. O mesmo não acontece se formos convidados da noiva, a ela ofereceremos antes um pequeno eletrodoméstico ou algo para a casa, não lhe damos dinheiro porque seria como dá-lo ao marido, visto que ela passará a viver em casa dele. Naquele momento nem a noiva sabe ainda como será a vida com aquele homem, numa nova casa, parte de uma nova família, mas é muito provável que se ela receber dinheiro seja ele quem o vai guardar.