Meia dúzia de saudades (parte II)

Azan

As mesquitas são um polo central das comunidades muçulmanas, e o recitar do azan, a chamada para a oração, está presente cinco vezes ao dia. Faça chuva ou faça sol. Os fiéis são assim convidados a rezar, de preferência na mesquita, mas qualquer que seja o lugar em que se encontrem pode ser um lugar de oração.

– Não devemos nunca saltar as orações – defende Rizwan. – Cada um faz como entende, mas na minha opinião, aquele que tem fé cumpre. Caso eu esteja ocupado no horário da oração, irei fazê-la logo que esteja disponível. Se estiver doente, faço-a como posso.

As palavras do azan são igualmente entendidas como uma bênção para as crianças recém-nascidas.

– Quando uma criança nasce os pais pedem ao Imã, aquele que conduz a oração na mesquita, que visite a sua casa e abençoe o recém-nascido. O bebé ainda não sabe o que é o mundo quando o Imã lhe diz as orações aos ouvidos, na presença dos pais e da restante família que rezam também. Quando eu nasci também mo fizeram.

Quando chegou a Portugal sentiu a falta daquela voz cantada ao megafone da mesquita.

– Aqui não oiço o azan. Vou à mesquita à oração de sexta-feira, a Jumu’ah, e tenho uma tabela com os horários locais de oração.

Rizwan conta com orgulho que o seu irmão mais velho, após o oitavo ano na escola pública, passou para uma Madraça, uma escola muçulmana onde aprendeu a memorizar o Alcorão. A palavra «Alcorão» do árabe, significa «recitação».

– E o meu irmão consegue recitá-lo de cor. Chama-se Hâfiz. Consideramos que consegui-lo é uma bênção – apreça Rizwan. – Depois de o aprender, ele tinha de o recitar diariamente para não o esquecer. Há crianças com oito, nove anos que já aprenderam o Alcorão de cor. São crianças que iniciam os estudos aos seis anos na Madraça, onde se dedicam a aprender o livro sagrado do Islão. Depois disso normalmente ingressam na escola. E como a sua memória esteve a ser tão trabalhada, tão afinada, são muito inteligentes. Muitos dos Imã são Hâfiz.

O Alcorão está organizado em 114 suras ou capítulos e contém quase 80.000 palavras, das quais mais de 14.000 não se repetem ao longo do texto.

Este homem é amigo do meu irmão. Ele está a viver em Inglaterra e tinha trazido umas coisas da parte do meu irmão. Fui ter à cidade dele, encontrámo-nos nesta loja de sumos. Paan Drink corner. Na ásia há muita gente que masca paan.

Picles

Rizwan andou na mesma escola pública que o irmão até ao décimo ano, altura em que se mudou para Punjab onde fez a licenciatura em Direito.

– Depois da universidade de Punjab fui para Inglaterra, onde continuei a minha formação e comecei a trabalhar em Direitos dos Migrantes. Estive lá alguns anos até decidir regressar ao Paquistão.

De volta a casa, há um conforto inigualável que se reencontra. Nos picles caseiros, por exemplo.

– Como tínhamos muita produção, era comum a minha mãe e a minha avó fazerem picles de frutas e de legumes. Os frascos ficavam selados, colorindo as prateleiras, e recorríamos a eles ao longo do ano.

Manga, cenoura, limão, pimentos, lasura, eram os mais comuns.

– A minha avó era uma especialista, porque o seu saber foi desenvolvido com o trabalho das suas próprias mãos, não através do uso de eletrodomésticos e outras máquinas.

Quando estava a estudar Direito na cidade de Lahore, participei neste seminário/convenção internacional sobre os direitos das mulheres, foi em 2001 ou 2002. A fotografia foi tirada no Hotel Pearl Continental, muito famoso e caro. Estes são os meus colegas, e de gravata azul está o responsável pelo Supremo Tribunal de Lahore, que também foi nosso professor. A maioria de nós usava bigode na altura.

Campas dos pais

– Mas aquilo de que sinto mais falta é das campas dos meus pais. Eu vivi muitos anos com os meus pais, em especial com a minha mãe, até à sua morte. Tenho saudades dos meus irmãos e irmãs, dos meus sobrinhos e da restante família, gosto muito deles e eles gostam muito de mim, sinto a falta deles. Mas a minha mãe…faz-me muita, muita falta.