“Do passado só guardo as coisas boas. Lembro-me de jogar ao pião e de andar de bicicleta. Eu vivia com os meus tios. Lembro-me das nossas viagens de autocaravana, em Portugal e no estrangeiro. Estive uns tempos a viver na comunidade do meu pai em França, e também foi bom. Depois começou a vagabundagem.
No início eu gostava de estar na rua. Não tinha nada para fazer e não ter obrigações dá liberdade. Passava muito tempo na praia. Com algumas interrupções, estou na rua há 8 anos. Já experimentei as casas de abrigo mas não gosto, há muita gente e confusão. Às vezes – normalmente – durmo muito, prefiro ficar a dormir do que estar a andar sempre pelos mesmos sítios. Tento manter-me limpo, adoro tomar banho de água quente! Peço a um amigo para ir a sua casa e encho dois garrafões. E depois vou tomar banho para algum sítio desmarcado, tenho os meus sítios…
Não foi o álcool – que mal bebo – nem as drogas que me levaram para a rua. Fui eu mesmo. Mas agora já não gosto, agora sinto solidão. Estou mais velho… Agora quero arranjar trabalho para sair da rua.”