– Com os meus 49 anos, já eu tinha a minha filha com dezoito anos, íamos as duas levar o meu irmão ao treino na pista do 1º de Maio, em Alvalade. Um dia ele disse-nos, «Vocês têm de arranjar uns ténis e vêm treinar também, escusam de ficar sentadas só à minha espera…». E assim foi.
– Nessa altura eu nem ténis tinha, nunca fui habituada a andar de ténis. E nem sabia como fazer um treino, comecei por ir andar para a pista, mas o meu impulso era largar a correr por ali fora. Ainda nesse ano, fiz a minha primeira prova, inscrita pelo meu irmão: a prova do Moinho da Maré, no Miratejo.
– Hoje sou recordista de maratona. Meia-maratona, 10.000 metros, 5.000 metros, 1.500 metros. Sempre vim medalhada do estrangeiro.
E Joaquina não consegue continuar a história sem tornar a referir a cada parágrafo, como se a cada curva do caminho, o marido.
– Ele tinha um orgulho tão grande em mim! Foi ele que criou este museu, era ele que organizava tudo, diplomas, medalhas, taças, notícias, prendas que me davam… Ele andava a dizer que precisava de vir para aqui organizar as coisas, estão para aqui medalhas em sacos que ainda não tinham lugar…
Há um post-it colado na porta de uma vitrine que diz: 35 medalhas de ouro / 28 prata / 15 bronze.
– Não sei se isto está atualizado…Foi ele que escreveu, como uma cábula caso me perguntassem, porque nem tinha esta informação de memória…
O foco estava na corrida.
– Não vou para as provas a pensar que tenho de ganhar, vou a pensar que quero dar o meu melhor. E não vou a sofrer, vou descontraída. Nunca parei numa prova, se precisar abrando um pouco, mas não paro. E não bebo água, não consigo. Nem faço ginásio ou massagens. Por exemplo, fiz prova este domingo, e depois a minha vida seguiu normalmente, nem me lembrei mais que tinha feito a prova, o corpo não se queixa. Ontem fui para a Apostiça fazer o meu treino, olhe tenho aqui o registo no relógio: uma hora e treze, com subidas e descidas a pique.
– Para os 10.000 metros pista já não tenho coragem. O que eu mais gosto é de corta-mato. Mas também vou bem nos 1.500 ou nos 3.000 metros em pista. Em Março vou ao campeonato na Polónia.
Joaquina tem hoje 83 anos.
– Os idosos em Portugal são encaminhados para um lar ou para receber assistência, mas eu felizmente ainda estou ativa. Comecei a correr aos 49 anos e nunca mais parei.