Dois mil e vinte

– Do que eu não fazia ideia é da dificuldade em encontrar trabalho em Portugal. Aqui os trabalhos são raros. O mais fácil de encontrar são trabalhos pesados, na agricultura, nas obras, mas para quem sempre fez trabalho de gabinete é realmente muito duro.

Chão.

– No início demorou mais de seis meses até conseguir ter o meu número de Segurança Social, ou de outra forma não temos acesso a qualquer trabalho. Depois há a questão da língua portuguesa, quando não se consegue falar nem entender o que nos é dito precisamos da ajuda de alguém. «Eu sei falar inglês, urdu…», apresentava-me eu. «Não, não precisa da língua portuguesa» – mas como podemos estar dependentes disso se acabámos de chegar? Fui fazer o curso de Português, e esforcei-me para ser o melhor da turma. Tentei novamente candidatar-me a trabalhos. «Não posso aceitá-lo, não tem título de residência».

Paredes.

– A motivação para sair do meu país, e certamente a motivação da maioria dos migrantes, relaciona-se com questões económicas. Procuramos uma vida melhor, que o nosso país não nos consegue dar. Melhor educação, melhor saúde. Mas as poupanças que trazemos têm de ser geridas entre a viagem, renda, alimentação, impostos… Um euro são 200 rupias! Imaginem quantas rupias eu tenho de conseguir amealhar para sobreviver às necessidades iniciais aqui.

Teto.

– Se aceitam a chegada de imigrantes devem ser criadas condições para os receber. Se eu não consigo sustentar-me aqui nem ajudar a minha família que ficou no Paquistão, de que vale ter vindo? De que vale terem-me cá?

Há vida na casa.