Dois mil e dezanove

Rizwan estava a trabalhar na sua cidade como advogado quando, em 2015,

– A minha querida mãe faleceu. Eu não sou casado, de modo que com a ausência da minha mãe e com os meus irmãos nas suas vidas, chegou a solidão. Repensei o meu projeto de vida, que poderia incluir emigrar novamente. Haviam passado sete anos do meu regresso a casa depois de viver em Inglaterra. Comecei a sentir falta da Europa. Uma coisa era certa, precisava considerar um país com clima ameno – dei-me mal com o tempo em Inglaterra.

Rizwan elenca com rapidez os atributos que viu em Portugal:

– Pessoas simpáticas. Bom tempo. Um nível de vida mais barato que nos países vizinhos. Tratamento dos processos mais rápido que em outros países. Além do grande atrativo das praias e monumentos que embelezam o país. Finalmente, conhecia a presença histórica dos árabes nesta região, e vim a saber da existência de uma comunidade muçulmana aqui. Tinha noção da migração de pessoas vindas de países asiáticos, mas não conhecia cá ninguém.

Com Portugal no horizonte, Rizwan iniciou o pedido de visto. A aceitação chegou rápido, e com ela um peso de emoções contraditórias, entre a felicidade da mudança desejada, e a angústia que a mudança traz.

– A fase de preparar tudo para imigrar custa muito, é uma fase de sofrimento, de grande sofrimento. Sentir que estava prestes a deixar o meu país, o lugar onde nasci e cresci, as minhas pessoas. Deixar toda a minha vida ali para me dirigir a um desconhecido muito diferente do que estava habituado. E a ausência a que me propunha, nesta viagem para Portugal, é uma ausência da qual não se sabe a duração, apenas que será longa.

As questões práticas pareciam mais simples de gerir, distraindo o pensamento.

– Eu estava a trabalhar, e tive de entregar os casos que tinha em mãos a um colega. Tratei da conta no banco. Procurei uma pessoa para cuidar da minha casa e da quinta. Comprei o bilhete de avião e fiz outras compras necessárias…

Certificado do curso de Advocacia na Universidade de Punjab

Mas as horas de quietude existiam para lhe desassossegar o peito.

– Chorei muito junto com os meus irmãos e os meus sobrinhos. Até com a senhora que ajuda na limpeza da casa, ela já está connosco há tantos anos, chamamos-lhe “tia”, abraçámo-nos e chorámos. Pergunto sempre por ela quando falo com a minha família ao telefone…

Mas o aperto que o estreitava era profundo como pode ser a saudade.

–  Se calhar chorei mais quando vim para Portugal do que quando a minha mãe morreu. Na minha opinião, deixar o país que se ama e tudo o que isso representa, é dos momentos mais dolorosos que se pode ter na vida. Um pensamento perturbador não me abandonava «Conseguirei voltar a estar com estas pessoas novamente todas juntas?»

A indefinida duração do tempo de separação acentuava a tristeza.

– Tenho familiares muito próximos que, pela sua idade ou condição de saúde, já não estarão neste mundo quando eu voltar ao Paquistão. E comigo ficarão apenas as boas memórias, e a saudade que sentirei quando regressar aos locais que partilhámos e eles não estiverem presentes.

As malas estavam prontas tornando real a decisão.

– Para se poder construir uma nova casa temos de deixar a anterior.

E assim Rizwan chegou a Portugal em Julho de 2019.