A cozinha

– Com uma família tão grande em casa, havia sempre qualquer coisa a acontecer na cozinha. O cheiro da comida era maravilhoso, e parecia envolver a casa mesmo do exterior…. Havia quatro a cinco mulheres em casa que cozinhavam, e cada uma delas preparava um prato diferente para a refeição, portanto havia sempre pelo menos quatro alternativas. Por exemplo, a minha mãe faz muito bem o arroz, então era costume o arroz ficar ao cuidado dela. Quando saímos daquela casa e a família se separou, esse foi um grande contraste que senti, a falta das refeições variadas e das opções que preenchiam a mesa.

E Eman encadeia os principais acontecimentos de um dia habitual para reforçar como a cozinha era um lugar agregador na sua casa.

– A manhã começava cedo, pelas cinco, com a minha mãe a acordar-nos para rezar. Os homens saíam para rezar na mesquita, mas as mulheres e as crianças da casa rezávamos juntos na mesma sala. Entre as cinco e meia e a seis e meia dormíamos – pelo menos os adultos, nós as crianças resistíamos em voltar a adormecer… O pequeno-almoço era uma refeição muito importante que tomávamos juntos ao redor da mesa grande. Comíamos paratha, um pão achatado, acompanhado por chá, ovos, picles numa mistura de especiarias. De manhã não havia muita diversidade, porque era uma refeição que era cozinhada muito cedo, mas a regra lá de casa é que tínhamos de comer tudo, as mulheres não queriam sobras.  Era talvez o momento em que o grupo das crianças era mais pontual. Finalmente preparávamo-nos para sair, os homens para os seus empregos, e as crianças para a escola. “Onde estão as minhas meias?”, “Quem mexeu no meu casaco?”, era um alarido de manhã. A minha mãe dizia «Depois de vocês saírem, a casa ganha uma paz que ninguém acredita ser possível…conseguimos finalmente falar umas com as outras!»

– Aos domingos o pequeno-almoço tinha mais variedade, acrescentava-se halwa poori, uns pãezinhos doces fritos, que demoravam mais tempo a preparar, as nossas mães faziam-nos antes de nós acordarmos…

kabab, kheer, nehari, samosa, palak raita, e novamente kabab

– O aroma vindo da cozinha parecia constante, sempre alguma coisa a ser cozinhada, ora as refeições principais, ora os lanches das crianças – depois da escola apressávamo-nos de regresso a casa quando sabíamos que as mães estariam a cozinhar algo de que gostávamos muito. Ora o chá e o café acompanhado de algum snack para receber alguém em casa, ora na hora de os homens regressarem dos trabalhos – os homens da família trabalhavam fora de casa, e as mulheres trabalhavam em casa. Entre a lida doméstica, as compras, a cozinha, os filhos, também era costume o convívio entre as mulheres em casa umas das outras ao redor de um bule de chá. A nossa casa tinha uma grande árvore no quintal, um dos locais preferidos das mulheres para se reunirem nos dias de Verão.

Eman com o tio materno, comendo uma tâmara no seu primeiro jejum no mês do Ramadão