– A minha família preparou um jantar de despedida em casa da minha avó materna, a mesa repleta com os nossos pratos preferidos, foi tão bom! Mas a despedida foi muito difícil, com a presença de todos aqueles familiares, e o meu avô começou a chorar. O meu avô é muito próximo da minha mãe, a filha mais velha. A minha avó disse para o marido “Se choras, como vai ela conseguir ir embora?”
– À uma da manhã começámos a viagem em direção ao aeroporto na companhia dos meus tios. Uma mistura de sentimentos tomava conta de mim, a caminho de uma vida nova fora do Paquistão, e diante da primeira experiência de andar de avião, que íamos fazer sem ajuda. O voo saiu do Paquistão às seis da manhã com escala na Turquia. Estávamos nervosos, sentámo-nos nos lugares errados. Na escala não sabíamos como fazer, a minha mãe acalmou-nos, bebemos chá, e pedi ajuda a outros passageiros paquistaneses e indianos que nos entendiam, e nos encaminharam.
Registada no seu calendário interno Eman tem uma nova data:
– Chegámos a Portugal no dia 3 de Agosto de 2021. Quando falei aos meus amigos através de um número português, foi como se eles finalmente acreditassem que eu estava aqui…
– Começar a viver num novo país é muito difícil, mas nós tivemos a grande ajuda do meu pai que nos facilitou esses primeiros tempos e nos ensinou como fazer. O meu pai tinha preparado muito bem a casa para nos receber. Nas primeiras semanas nós mal saímos de casa, não conhecíamos ninguém, não conseguíamos comunicar com as pessoas daqui, e isso deixava-nos ansiosos. Eu tinha medo de fazer alguma coisa errada, tinha vergonha de falar com receio dos erros que ia dar. Nas primeiras semanas o meu pai fez as compras e tratou de tudo, e só ao fim de um mês conseguimos ir passear com ele para que nos ensinasse e começássemos a conhecer este novo lugar.
E entre os seis elementos da família acabados de chegar, a adaptação não era idêntica entre todos.
– Com o início do ano letivo em Setembro, os meus irmãos mais novos entraram na escola. Para eles tudo pareceu tão simples, eles são muito felizes aqui, parece que já nem se lembram do Paquistão. Para mim foi um pouco mais difícil. Eu quero ser médica, mas quero fazer o curso em inglês, seria muito difícil estudar medicina em português. Encontrei uma escola, mas as candidaturas já se encontravam fechadas, por isso vou ter de esperar pelo próximo ano letivo.
– Em meados de 2022 consegui um trabalho em Lisboa, por três meses. Foi muito bom poder interagir com outras pessoas, sair, ver outras coisas, aprender um pouco de português. Essa foi a melhor fase porque estava ocupada. Eu quero aprender e sentir-me útil, quero estar ocupada. Estou a ter aulas de português, a fazer um programa de voluntariado na Associação Rato ligado à programação informática, vou buscar os meus irmãos à escola, levo-os a brincar ao parque, e assim começo a sentir-me mais adaptada. Se ficamos fechados em casa ficamos fechados em nós, não há interação com os outros, não conseguimos fazer parte de algo, não desenvolvemos confiança para começar a falar a língua…. Agora já consigo entender os meus vizinhos, e falar um bocadinho em português com eles, ainda que a minha pronúncia tenha um longo caminho pela frente! – risse ela.