Objetos viajantes da Eman

O anel do meu avô – Este anel foi-me dado pelo meu avô materno. Um dia ele estava a usar este anel e eu disse-lhe que era muito bonito, pedi-lho e ele deu-mo. E eu sei como ele gostava do anel. Não fui arranjá-lo, apesar de estar um pouco danificado, deixei-o como o recebi, e isso dá-lhe mais valor pela memória que guarda do meu avô.

Um par de brincos, ou um presente para lembrar por toda a minha vida – Foi uma amiga que mos ofereceu no meu aniversário, há dois ou três anos. Eu já estava a viver na cidade e ela ficou na aldeia, e enviou-os por encomenda. Somos amigas desde crianças e separámo-nos na altura em que mudei de casa. Ela chama-se Sifaat.

Cartão de estudante – Cada aluno tinha o seu cartão e precisávamos dele para entrar na escola. O mais engraçado é que eu nunca o levava. Quando eu chegava à escola o segurança perguntava-me pelo cartão, eu pedia-lhe muitas desculpas por me ter esquecido e dizia-lhe que no dia seguinte o levava, mas nunca levei, e ele nunca me deixou ficar à porta.

A viagem – Fotografia com as minhas amigas – Eu tinha dezasseis anos. Fomos numa visita de estudo a Islamabad, capital do Paquistão, e fomos visitar o Monumento do Paquistão, que se vê ao fundo. É costume haver fotógrafos por ali, e foi um deles que tirou esta fotografia. Pedimos-lhe que fizesse 6 cópias, então cada uma de nós tem uma fotografia igual a esta. Está um pouco maltratada, foi uma das minhas irmãs…Conheço metade destas amigas desde a primeira classe, as restantes desde o quinto ano. Continuamos muito amigas, mesmo à distância, partilhamos o que se passa com cada uma de nós. Todas elas continuam no Paquistão, mas todas seguimos percursos diferentes. Para onde quer que eu vá gosto de levar esta fotografia. Era costume todos os anos fazermos uma viagem com a escola, mas esta foi especial, e foi a última. Eu e a Sifaat usamos o hijab, as restantes não, porque não é obrigatório, é a nossa escolha. Eu uso porque gosto, sinto-me bem e cuido desta tradição. As minhas irmãs mais novas não costumam usar, ou usam conforme a situação.

Jamia-Tuz-Zahra – No Verão, durante as férias, eu e a minha irmã fizemos um curso com a duração de um mês sobre religião, sociedade e cidadania. Ficámos alojadas num hostel, e foi a primeira experiência de estar longe de casa. Ao princípio foi difícil, mas no fim o difícil foi separar-me das pessoas que lá conheci.

Lenço / hijab – Só quando a mulher coloca o lenço é que ele passa a ter o nome de hijab. Este trouxe-o do Paquistão, e não o uso com frequência, guardo-o para momentos especiais. Usei-o, por exemplo, no casamento do meu tio. No dia em que me mudei para Portugal trouxe-o na mala comigo, então faz-me também lembrar por um lado as pessoas que deixei lá, por outro a passagem para este país. É um transportador de memórias. Não guardo fotografias de todas as ocasiões, mas quando olho este lenço ele faz a ligação a todas as memórias que tem associadas a si.

Dia e Alam, a bandeira da prosperidade – Coloca-se um fio de algodão dentro, e óleo, mais ou menos óleo consoante o tempo que queremos que arda. Quando vivia na aldeia, a minha avó costumava acendê-lo à noite. Quando nos mudámos para a cidade mantivemos o hábito. Trouxe-o para Portugal, e costumo acendê-lo durante alguns minutos ao final de cada dia. Temos um pequeno altar com uma pequena bandeira, cujo nome é «Alam», e que representa prosperidade, e a chama é acesa por baixo, como uma forma de nos prepararmos para receber a bênção. Também pensamos nos que já morreram. É algo que fazemos por gosto, não é obrigatório. Agora está um pouco partido.

Mala – Depois de dois anos sozinho em Portugal, quando o meu pai regressou ao Paquistão levou-me esta mala de presente. Foi nessa altura que decidimos que nos mudaríamos para cá. Por isso representa o início da mudança, representa o início de uma nova fase da nossa vida. Quando me ofereceu a mala, ela trazia dentro várias moedas de Portugal e da Turquia por onde passou, bem como chocolates e outros mimos. Para mim esta mala representa Portugal e a fase da vida em que estou agora.

Tasbeeh – Fio de contas que a minha avó materna me deu quando vim para Portugal, como um presente para me lembrar dela. Sou muito próxima dos meus avós, e eles também de mim, eu sou a neta mais velha e a minha mãe é a sua filha mais velha. Passámos muito tempo juntos. Tasbeeh é usado na oração, as contas ajudam a que não nos percamos nas contagens.

Tablet – Reúne as fotografias da minha infância e adolescência, o meu passado em imagens.