O quarto das visitas da avó

O rosto de Eman ilumina-se quando apresenta a matriarca.

– A minha avó era um elemento central nas reuniões das mulheres. Havia uma cama onde era costume ela se sentar, uma cama lindíssima e bem arranjada, e todas as outras mulheres, da nossa casa e da vizinhança, se distribuíam por cadeiras ao redor dela. A minha avó era a mulher mais velha do grupo, muito respeitada, de modo que as mais novas vinham para a ouvir, para pedir conselhos, para contar novidades, para conversar. Sobre os filhos e as escolas, sobre a lida doméstica e as compras, sobre política e televisão… Às vezes aquelas mulheres traziam os filhos, que se juntavam a nós lá fora, a fazermos os nossos disparates. Havia sempre ação naquela casa!

A avó paterna ao centro

As palavras dançam-lhe enquanto contam a história, ora apressadas, ora lentas, sorridentes, abatidas.

– A minha avó era muito querida. A dada altura ela deixou de cozinhar, mas se os netos pediam alguma comida de que gostávamos muito, ela fazia-a para nós, mesmo que já mal andasse… E às vezes dava-nos algum dinheiro às escondidas dos nossos pais.

E a história faz-se de palavras que são mais do que as letras juntas, são as memórias que importa tornar a dizer.

– A minha avó morreu em 2011. Foi muito triste e doloroso. E com o tempo a família foi saindo, uma tia foi para junto do marido que estava noutro país, a tia mais nova casou-se, os meus primos, mais velhos do que eu, foram estudar… Naquela grande casa só ficámos nós. E enquanto lá ficámos passou a ser a minha mãe a sentar-se na cama da avó e a receber as mulheres da vizinhança. Habituei-me a uma casa onde havia sempre convidados. Quando também nós saímos daquela casa e fomos viver para o apartamento na cidade, a minha mãe manteve o hábito de convidar as amigas a casa.

A avó de Eman com uma criança ao colo. As raparigas são suas filhas, tias de Eman.
Num casamento, segurando os pratos decorados com velas e flores para oferecer à noiva.