Joaquina Flores, nascida em Esmoriz, concelho de Ovar, distrito de Aveiro.
– Nasci em Esmoriz e depois fui para Espinho. Quando eu era pequena o meu pai trabalhava como vendedor, era vendedor ambulante. Estava muitas vezes fora, e eu lembro-me da alegria quando se começava a dizer lá em casa «O pai vem aí, o pai está a chegar!». Era costume a minha mãe ir levantar parte do ordenado do meu pai diretamente no patrão dele, era “a féria”. Era preciso andar muitos quilómetros e os meus irmãos mais velhos não estavam para isso. Então era eu que ia com a minha mãe a pé, ela levava-me pela mão, de Espinho a Esmoriz, todas as semanas, levantar a féria. E depois novamente de regresso a casa. Ela comprava-me um pãozinho, e eu ia entretida a comer pelo caminho, que na altura era quase só pinhal e quintas, mal se viam casas. Eu teria seis anos.
– Por causa do trabalho, o meu pai queria estar mais próximo da zona de Lisboa, e arranjou uma casa no Alto Moinho.
– O meu pai deu-nos uma educação rígida em que aprendemos que não podíamos falar de qualquer maneira, não podíamos brincar de qualquer maneira. Lembro-me de ele distribuir as nossas cadeiras em roda na sala, onde nos sentávamos quando ele saía, e lembro-me de ele atar uma linha entre as cadeiras. Só era possível manter a linha intacta se estivéssemos sossegados. Nunca partimos a linha.
– Eu era a menina dos recados, era eu que ia buscar as encomendas, os meus irmãos não tinham pedalada nem vontade. O pão, por exemplo, ia buscá-lo a uma padaria a Corroios. Eram uns pães grandes que a padeira pesava, e se não chegava ao meio quilo, ela cortava de um outro e juntava até perfazer a pesagem. A esse pedaço de pão de acrescento chamava-se «contrapeso». No regresso a casa eu comia o contrapeso normalmente sem autorização.
– Quando a minha irmã mais velha casou foi viver para Moscavide. Eu teria dezanove anos e estava em casa dela. Andávamos a fazer jogos de desafios. Nessa altura conheci o meu futuro marido e amor da minha vida, que tinha ido lá visitar uns primos. Quando o vi pela primeira vez achei-o muito bonito. Quando nos apresentaram demos um aperto de mão, e depois nem eu nem ele largávamos a mão um do outro! Assim nos apaixonámos. Mais tarde o meu pai disse-me que o queria conhecer e então deu-me autorização para namorar com ele, ainda que o namoro não fosse além da conversa. Casámos na igreja da Luz há 62 anos. Perdi-o em Agosto de 2022.
Joaquina é também um exemplo de amor e companheirismo.
Com o marido – primeiro e único amor de uma vida.
Com os colegas e outros atletas – que respeita, impulsiona e motiva a continuar.
Com público – para quem tem sempre um sorriso e um agradecimento.