«leve-leve»
[adv. proveniência São Tomé e Príncipe] – 1. devagar; 2. suavemente
Dona Maria tem um jeito intrínseco de sabedoria, de quem se deixou viver, entregue, aprendiz a seu tempo, e que hoje descansa do aprendizado, recebendo vizinhança no seu alpendre, que agora é tempo de conversar descansada, ainda que nunca de se meter para dentro.
– Sei assinar o meu nome e é só. Se eu tivesse tido escola, agora estava bem reformada. Mas eu não sofri com o trabalho, porque eu trabalhava por mim, trabalhava com a minha mão.
Quem passa perto do Bairro de Santa Marta de Corroios não vê para dentro. Vê as extremidades feitas de aglomerado de chapa. Mas este lugar é lar para muitas pessoas, são vidas inteiras.
É na extremidade que o carteiro deixa a correspondência.
É na extremidade que se atravessa a estrada de alcatrão e que os telhados passam a ser de telha.
Casa é lugar maior. É o número 106.
Ouvem-se os pássaros na altura dos pinheiros, o arrolhar das pombas por vezes, o comboio a ressoar ao longe, os homens a bater chapa ou usando berbequins.
Os objetos são reutilizados, revistas as suas utilidades.
“Para quem trabalha, ninguém chateia.”
Galinhas cacarejam, carrinhos de mão tropeçam nas pedras do caminho.
Ela ensina o sobrinho-neto a pentear-se, a desembaraçar os caracóis, usando um pente e a conversa.
– Obrigada Dona Maria!
– De nada, de nada. A casa é nossa!