Abriram portas em 1972. O avô era sapateiro e a família foi aprendendo o ofício por consequência. Há vinte e dois anos o casal teve a primeira filha, havia tanto trabalho para dar resposta que ele não fechou a loja, ela chegou com um bebé ao colo, ele rodeado de sacos de sapatos sem ir à cama há três dias. Foram tempos áureos, é como recordam. Não faziam hora de almoço e prolongavam para serão até às onze, meia-noite. Ninguém deitava calçado fora, entregava-o no sapateiro para consertar: arranjar sola e capa, pôr saltos novos, novos fechos para botas, malas, carteiras, fazer reforços, fazer correções. “Faz-se tudo menos sapatos novos.”