Em 1940 Orlando Ceia ruma a Lisboa para aprender a fazer gelado com um italiano. Uma ideia inovadora nas mãos de um rapaz empreendedor, trabalhador e visionário. Tinha ele 17 anos. O tempo correu. Com formação e experiência cresceu, tal como o negócio. Investiu na qualidade com utilização de produtos locais: comprava as frutas no mercado, optando pelas aromáticas e com polpa, e o leite era transportado em vasilhas vindas do Monte da Caparica. Em 1966 com a inauguração da ponte Salazar, Almada desenvolve-se muito e isso reflete-se na gelataria, com filas à porta. Orlando tinha um carro frigorífico onde transportava os gelados e os homens que com ele trabalhavam: fazia a linha da Costa da Caparica até à Fonte da Telha, deixando os homens de manhã na praia, quando terminava fazia percurso inverso para os abastecer novamente, e finalmente ao final do dia passava a recolhê-los.
Sendo um ofício sazonal, a loja fechava no Inverno, mas a família e o grupo de trabalho continuava a labuta: marcavam presença nas salas de espetáculos como o Coliseu, e em cinemas. Iam para o Pavilhão dos Desportos, onde havia hóquei em patins, e vendiam gelado no intervalo, e do mesmo modo nos campos de futebol de Lisboa e Setúbal. Corriam os eventos nacionais mais próximos: a queima das fitas de Coimbra, a festa dos tabuleiros em Tomar, o 13 de Maio em Fátima, as touradas em Santarém. E abasteciam os barcos e navios que atracavam nos portos das redondezas. Havia quem não soubesse como comer o gelado, e metiam-no no pão.
O negócio passou para as mãos da filha de Orlando, Maria José. Preserva os ensinamentos do pai, aliando o artesanal e a inovação. Ela escuta as ideias dos fregueses, dá os gelados a provar, procura corresponder com o que as pessoas desejam. Cria novos sabores e as pessoas visitam o Monte de Neve para provar as novidades. Faz os gelados com muito amor e carinho, é também isso que distingue o artesanal, e esta empresa familiar. “A gratificação é a boa apreciação que fazem do nosso trabalho, dá vontade de ser melhor – é o motor da inspiração, e da vontade de continuar.”