“Cresci na quinta do meu avô. Ele comercializava chá. O aroma do chá no ar e a companhia da minha irmã são boas memórias dessa infância feliz.”
Na altura Dália tinha uma amiga que fazia teatro e a quem ela acompanhava aos ensaios. Sentava-se na plateia e aprendia todas as deixas. Quando uma das meninas do elenco adoeceu com sarampo, Dália foi chamada para a substituir. Ficou radiante e correu a contar à mãe. “A minha mãe não sabia ler nem escrever, e disse-me «Não voltas lá! Não quero artistas cá em casa!» Dália tinha 10 anos e o seu maior sonho escapou-lhe da mão.
Os anos passaram e Dália casou aos 21 “para me libertar, para sair de casa.”
Foi viver para Setúbal.
“Eu era uma menina de pontinho branco, e custava-me ver as crianças descalças e com ranho no nariz.”
Depois de lhe acontecer “outra libertação, o 25 de Abril”, ficou responsável pelo Pelouro da infância na Comissão de Moradores, mais tarde na Câmara Municipal e esteve na gestão de vários infantários, já em Almada. “Sentia-me mãe e avó de todas aquelas crianças.”
Pôde finalmente reencontrar-se com o teatro na Universidade Sénior Dom Sancho I, e por acréscimo teve acesso a outras artes, que lhe enchem os dias.
“Sou alguém que sabe envelhecer. Falo com o espelho e digo-lhe «Ainda bem que tens rugas, elas são vida vivida.”